quarta-feira, 18 de junho de 2008

sem

Coma e cuspa o que não é seu. Deságüe a salgada água que brota de suas glândulas e molham teus cílios fazendo brilhar filetes em suas bochechas fletidas de angústia. Esqueça do belo que nunca alcançou. Chute e olhe pra frente. Chega de tremer as pernas, sentado, ao se lembrar de esperanças que você mesmo criara. Lembre do que hesitou fazer. Dos sorrisos que perdeu. Do belo que não criou por estar cansado de ficar bêbado pra estar com ela e provar pra si mesmo que durante três meses a angústia e a dúvida foram tudo que ela te deu. E ser cruel o suficiente pra mentir pra si mesmo dizendo que não gostou dos fortuitos momentos de alegria que aquela te propiciou fazendo todos os momentos péssimos que passara durante mais do que o tempo que ela esteve. Esqueça todos os sorrisos belos que deu sozinho quando o sol, primeiro, iluminou seus pés. Quando cantava sozinho pela rua “Here Comes the Sun” quando o astro era a portadora dos cabelos castanhos claros. Todas as vezes que, com um lápis na mão, se esforçava pra se lembrar dos contornos daquele rosto pra em qualquer papel rabiscasse aquela beleza que nunca conseguiu retratar. E quando a via novamente fixava seu olhar na face dela tentando decorar todas as minúcias que nunca conseguiu ver.

Limpe do rosto todo vexame por não ter conseguido fazer durar aquele sorriso. Comece a mentir pra si mesmo dizendo que nunca foi nem será culpa sua. Volte a respirar apenas o sol real. Pare de esperar que ela te procure pra começar novamente a incerteza de uma alegria constante. Não deite mais desejando que ela corra atrás de ti pra dizer que “sim, eu gosto”.

E pare de mentir que não quer, pois quer! Você quer. Eu a quero. E ela me pede pra não dizer e abandoná-la. E castrado, com medo de feri-la, se cala. No silêncio que angustia mais do que a incerteza do romance por ela desfeito. Meu desejo que não cala e a busca em várias formas que ela nunca vai conhecer. Vil. Consigo mesmo. O desejo suicida permutara até que a ela encontre novamente em carne e osso e lágrimas e suor e saliva e unhas e mãos e dedos.

Não me calo. Apenas ela que não escuta por que a ela não digo.



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