sábado, 13 de outubro de 2007

cores

Há muito tempo, ele, ali estava. A vida não lhe fazia mais um carinho nos cabelos com os ventos e brisas nas manhãs que as vivia a partir do mais novo e frio raio de sol. Ali sua felicidade jazia, já no acordar. Havia perdido o significado do amor a vinte anos atras após a morte de uma mulher que viveu ao seu lado. Ela que o fez pensar que amar era apenas cumprimentar alguém que ao seu lado vivia e que cumprisse suas tarefas já ditadas por ninguém e as esperava que fossem óbvias de serem percebidas. A vida lhe castigara as pele durante este longo tempo após falência que não só levava a única pessoa que lhe cuidava e alimentava todos os dias. A quem recorria a um ícone feminino sempre que sua masculinidade fosse corrompida por algum motivo burocrático. Com a morte de tal presença feminina, morrera também a vontade de apreciar o belo e a si mesmo, que sim, fora belo. Viveu sozinho toda sua vida acompanhado somente por aquela que dona de seus sorriso era e que a muito tempo em seu rosto não visitava. Sozinho se tornara, se concebia e permanecia até que um belo brilho e felicidade lhe retornaram aos olhos numa tarde onde vivia. Um lugar cruel e não muito bonito. No asilo onde já passara uma grande parte das primaveras que ainda lhe restavam, uma mão aos seus cabelos percorreu. Um carinho tátil que revigorara seu coração que pusera de volta um sorriso em sua face. Aquela mão portava um corpo que se revelava a cada parte tocada por ele. Corpo que aos poucos lhe devolveria a culpa de não ter vivido os anos que passara sendo apenas um corpo cinza e lhe pintava novamente com as cores que lhe pertencia. Um romance secreto no meio de outros que também portavam um corpo cinzento. Era primavera e para ele também. Revigorara e renascia após um outono que lhe deixara calvo e fraco e um inverno que o fizera frio e seco. Aquela mão que se tornara um corpo lhe fizera feliz em nobres momentos da redescoberta do amor que nunca havia descoberto. Aprendera com uma única pessoa que este sentimento vai além de um compromisso social. Seus olhos se perdiam sempre que seus lábios tocavam os daquele corpo que já fora uma mão e agora se tornara em amor. E tenro. Tenro se tornara com a inocência de um amor juvenil que nunca o tivera. O corpo, que se tornara amor, lhe recompunha as cores e cheiros na vida que havia perdido por nunca ter vivido o que lhe impuseram como erro. Aquele amor portava agora um corpo que se estendia em uma mão masculina. Descobrira o amor no corpo de outro homem, no homossexualismo que pela vida inteira concebia como crime e vergonha. E agora, após a mão ter se tornado um sentimento, havia ela buscado sua alma de volta em um convite para viver os últimos momentos de sua vida. E velho ali num asilo, não se firmava razões convincentes para que naquela extremidade do braço não fosse atrás do resto daquele corpo e homem.

E ele viveu. Com um sorriso morreu.

3 comentários:

Tati Teles disse...

Preciso de uma primavera assim
comigo
em mim
para mim.
Sentir cheiros
cores
e flores.
Outro olhar
outro lugar
outro amor.
Ouvir palavras
e sussurros;
música
pausas
e beijos...

Anônimo disse...

e isso me lembrou as intermitências da morte

samir honorato disse...

esse final tem influência de um escritoroutro conhecido...
;)